Gershon Baskin feels that Benjamin Netanyahu sabotaged Hamas deal to protect his political career and warns that the occupied West Bank is about to explode.
Gershon Baskin afirma que primeiro-ministro sabota acordo com Hamas para proteger sua carreira política e alerta que a Cisjordânia ocupada está prestes a explodir
Gershon Baskin says PM sabotaged Hamas deal to protect his political career, warns occupied West Bank is about to explode
Entre 2006 e 2011, o ativista israelense Gershon Baskin participou da negociação da soltura do soldado Gilad Shalit, sequestrado pelo grupo terrorista Hamas. Agora, a pedido de familiares dos atuais reféns, Baskin abordou a organização sobre a possibilidade de um acordo. Ao receber uma resposta positiva, informou os governos de Israel, EUA, Egito e Catar. Mas ouviu de um negociador israelense que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não estava interessado no fim da guerra. Ele decidiu vir a público criticar a postura do premier, em meio aos protestos que tomaram o país após a descoberta de novos corpos de reféns em Gaza
Baskin estará no país na semana que vem para participar do Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo, que tem apoio do instituto Brasil Israel. No dia 23, o israelense será entrevistado pela jornalista Leila Sterenberg no Teatro dos 4, no Shopping da Gávea, no Rio. Ao GLOBO, ele disse que Netanyahu prolonga a guerra para proteger sua carreira política, afirmou que os EUA devem parar de proteger Israel no Conselho de Segurança da ONU e alertou que a Cisjordânia ocupada está prestes a explodir.
O presidente americano, Joe Biden, disse que Netanyahu não faz o suficiente para assegurar um acordo que liberte os reféns. O senhor concorda?
Netanyahu está sabotando toda possibilidade de acordo para prolongar a guerra e proteger sua carreira política. Se Israel fosse uma democracia funcional, ele teria renunciado e assumido responsabilidade pelos ataques de outubro. Netanyahu sabe que, quando a guerra acabar, haverá uma investigação da Suprema Corte, e ele será responsabilizado. O povo vai pedir novas eleições, e ele vai perder. Ele imagina que, se ao menos matar Yahya Sinwar (líder do Hamas), terá uma foto da vitória. Mas o Hamas já mostrou que tentativas de matar Sinwar vão levar ao assassinato de reféns.
Qual é o impacto dos protestos recentes?
A coalizão de Netanyahu parece sólida, mas só precisamos que cinco membros em sã consciência se retirem para o governo cair. Há uma semana, 700 mil israelenses protestaram. Se o Hamas indicar que está disposto a acabar com a guerra em três semanas e libertar os reféns, mais de um milhão irão às ruas, por dias seguidos, para forçar Netanyahu a aceitar o acordo.
O Hamas está disposto a um acordo nesses termos?
Familiares dos reféns me pediram para consultar o Hamas. Consultei Ghazi Hamad (um dos líderes), com quem negociei a libertação de Gilad Shalit (soldado sequestrado pelo Hamas em 2006 e libertado em 2011) . Há uma semana, ele me disse que o Hamas aceitaria um acordo para acabar com a guerra em três semanas, tirar Israel de Gaza, libertar todos os reféns e prisioneiros palestinos. Se esse acordo for proposto oficialmente, eles vão aceitar. No dia seguinte, informei o governo de Israel, os egípcios, os cataris e a Casa Branca. Me disseram que a proposta chegou à equipe de Biden. Mas, depois de falar com um dos negociadores israelenses, decidi vir a público.
O que ele disse?
Que o premier não quer acabar com a guerra. Respondi que ele não deveria ter medo de Netanyahu. Israel não é uma ditadura, existe um governo, um Parlamento e a soberania popular. O trabalho dele é colocar opções na mesa, não dizer “sim” a Netanyahu.
Netanyahu diz que seu objetivo é derrotar o Hamas. Isso é possível?
O Hamas não é só uma organização, é uma ideologia nascida da opressão, da resistência de uma distorção do Islã. Não se derrota uma ideologia com exércitos, mas oferecendo esperança aos palestinos. Quanto mais Israel permanecer em Gaza, mais jovens que perderam tudo vão se unir ao Hamas. Um líder palestino disse que muitos pegam em armas porque ganham US$ 300 (R$ 1.670) por mês. Se é assim, vamos pagar-lhes US$ 600 (R$ 3.340) para se unir às forças de combate ao terrorismo. Esses jovens não são ideólogos, não têm esperança de um futuro melhor. É isso que cria ódio e violência, que são o combustível do terrorismo.
Por que a pressão internacional sobre Netanyahu não funciona?
A relação entre EUA e Israel é tão profunda que, se os americanos usassem um décimo do seu poder, moveriam montanhas. Os EUA devem dizer que são contra a guerra e parar de fornecer armas e de proteger Israel no Conselho de Segurança da ONU. Israel está se tornando um pária internacional, só tem apoio talvez da Alemanha. A denúncia à Corte Internacional de Justiça foi importante. Não acho que Israel esteja cometendo um genocídio em Gaza, mas crimes de guerra, sim, e não há razão para ficar impune.
Netanyahu quer reocupar Gaza?
Sim. Ele está falando em uma presença permanente no Corredor Filadélfia (na fronteira com o Egito). Um general aposentado apresentou um plano de expulsar todos os palestinos no norte e construir assentamentos. É um governo de messiânicos loucos, e Netanyahu é refém. Israel, a Autoridade Nacional Palestina e os países árabes deviam discutir um governo confiável em Gaza sem o Hamas.
Quais são as consequências da guerra para a Cisjordânia?
A Cisjordânia está prestes a explodir. O norte é dominado por grupos associados à Jihad Islâmica ou financiados pelo Irã. A Autoridade Nacional Palestina perdeu a legitimidade, não controla nem Ramallah (sede do governo). Cada vez mais jovens se unem a células terroristas e, há 11 meses, 200 mil de palestinos que trabalhavam em Israel não conseguem pôr comida na mesa. Os piromaníacos do governo israelense querem que tudo isso exploda. Desde o começo da guerra, 19 comunidades palestinas foram esvaziadas por colonos e 36 novos assentamentos foram construídos.
Um processo de paz ainda é possível?
A negociação da paz deve ser regional, envolvendo os países árabes e com o apoio dos EUA e da União Europeia, mas não liderada por eles. Um processo de paz tem de começar pelo fim: os palestinos precisam saber que depois de X anos terão um Estado independente, que, mesmo com o estabelecimento de fronteiras, israelenses e palestinos ainda terão uma conexão ancestral com todo o território, do rio (Jordão) ao mar (Mediterrâneo), e que Jerusalém será uma cidade internacional. A primeira coisa que precisamos fazer é trocar as lideranças dos dois lados. Nenhuma delas tem interesse ou capacidade de liderar um processo de paz.
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